sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

A matemática não fecha

Antes que eu seja acusado de comunista, o mundo ainda não presenciou o regime econômico e político ideal que fosse sustentável. Ainda que considere que o comunismo nunca tenha sido posto em prática, mesmo que tivesse, ele é simplesmente impraticável. Um regime que desconsidera as individualidades, quase como a República de Platão, não se sustenta. Simples assim.

Isso não significa que, na outra ponta, o capitalismo e o neoliberalismo sejam sustentáveis. Aliás são tão insustentáveis quanto. A lógica capitalista não fecha, é contraditória e parece cada vez mais próxima ao colapso. As crises e recessões são cíclicas por um motivo simples: o modelo não tem lógica, é contraditório. As soluções são sempre as mesmas e acarretam nas mesmas consequências.

Em tempos de crise e recessão o que vemos são sempre as mesmas práticas fadadas ao fracasso, resoluções que são natimortas conceitualmente. O princípio básico do capitalismo, seja como for, é que exista mercado consumidor. Claro que apenas uns poucos efetivamente lucram, mas para que eles lucrem, é necessário que as pessoas consumam, para que elas consumam é preciso que elas trabalhem. Em síntese, o capital nasce do trabalho e do consumo de alguém. Uma pirâmide relativamente simples e que parece, mas só parece que todos saem ganhando.

Mas a lei da oferta e procura, a auto-regulamentação do mercado, bem como grande parte dos governos mundiais ainda não entenderam essa lógica. Em tempos de crise, o primeiro termômetro é o aumento do desemprego. O salário reduz, as garantias trabalhistas reduzem, ou seja, aumenta-se a jornada laboral e a idade da aposentadoria. No entanto, a consequência disso é justamente a redução do consumo, do giro de capital e o aumento da crise.

Ora, com o medo do desemprego as pessoas compram menos, afinal não têm garantias que manterão seus empregos. Os preços acabam subindo para sustentar a cadeia produtiva, pois a produção não escoa. Aumentando a jornada de trabalho, reduz-se os postos de emprego. Afinal, se dois alternassem turnos de 6 horas seriam dois empregos, em vez de um empregado em turno único de doze.

O aumento da idade de aposentadoria também só contribui com o desemprego. Das duas uma, ou as pessoas continuam mais tempo no emprego, deixando um jovem de fora, ou – o que é mais comum – a pessoa que “poderia” estar aposentada é demitida, não pode aposentar e não é reabsorvida pelo mercado de trabalho, justamente por sua idade avançada. Menos gente trabalhando, menos consumo, menos impostos. Enfim, menos dinheiro girando. Não é preciso ser matemático ou economista para entender que a conta passa longe de fechar. O caos social é garantido.

Invariavelmente, o que os governos fazem quando estão à beira do caos é liberar crédito indiscriminadamente para fazer a economia voltar a girar. Obras públicas, créditos imobiliários facilitados, por aí vai. Em curto prazo, ótimo, funciona. Em longo cria-se uma bolha, que estoura e voltamos a situação anterior. Basta ver o “Milagre Econômico de 1970”, ou o Boom econômico do início dos anos 2000 até o princípio da lava-jato, a Crise de 1929 e de 2010 nos EUA. Precisamos conhecer a história para não repeti-la, mas a ganância não deixa.

As proporções desse colapso em escala mundial são ainda mais assustadoras. A população do mundo cresce. Crescem suas necessidades, mas diminui a sua importância. Antigamente a economia girava em torno de um produto, o capital girava em torno de um produto. Hoje, cada vez mais, produto, capital e trabalho se distanciam. O dinheiro é virtual, o trabalho é virtual. Não vendemos produtos ou trabalho, mas tempo e ideias. Não há mais vínculo entre produção e capital, tanto que os 8 homens mais ricos do mundo têm a mesma quantidade de dinheiro da soma de 50% da população do planeta.

O que isso tem com nossas vidas? Um episódio recente de “Os Simpsons” atentou para isso e muitos estudiosos também. No Fantástico, faz pouco tempo, passou uma matéria do carro que não precisava de motorista e do hotel em que quase todos os funcionários eram robôs. O exemplo do Simpsons também era nesse sentido, mas mostrando um estágio avançado, quase apocalíptico. Hoje, uma fábrica produz quatro vezes mais carros com três vezes menos funcionários do que há 10 anos atrás. O custo diminui, robôs não têm salário, direitos trabalhistas, necessidades fisiológicas. Mas para onde vão esses empregos? Suponhamos que todos se acabem, do que adianta produzir uma quantidade absurda de carros se ninguém terá dinheiro para comprá-los? O hotel em que a grande maioria dos funcionários é robô vai hospedar quem? Robôs não precisam de férias e humanos não terão dinheiro para gastar.

Será que pensam nisso? Ainda que a humanidade seja indispensável para cuidar de imprevistos, para algumas tarefas e para supervisionar os robôs, a necessidade de humanos se reduz em quantidade inversamente proporcional a quantidade produzida. Onde isso termina? Como disse a conta não fecha e o mesmo capitalismo que incentiva essa redução de custos vai sofrer com a falta de mercado.

Como disse, a solução para isso eu não conheço, o mundo ainda não viu um sistema político-econômico sustentável. Imagino que o mais próximo disso seja os escandinavos, ou, em medida menor, o uruguaio. Mas são países com populações muito pequenas, e a aplicação desse sistema em larga escala nunca foi testada. Fato é que caminhamos a passos largos para o colapso do sistema em que vivemos e, se a ganância continuar a cegar os que podem mudar isso, só veremos quando for tarde demais.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O recado está dado e foi claro

O Brasil é um país em que o voto é compulsório. Particularmente penso que tem de ser assim. Vivemos em uma sociedade extremista, radical, preconceituosa em que grande parte das pessoas com capacidade de mudar são apolíticas. O sistema é corrompido, a mídia manipuladora, o país é corrupto e cheio de currais eleitorais, sejam mantidos pelo coronelismo nos rincões, seja pelo “traficantismo” nas favelas. O voto obrigatório é a única chance de não sermos governados por Malafaias, Bolsonaros e outros radicais de qualquer espécie.
Mas o sistema eleitoral é falho. A democracia brasileira provou neste último final de semana que é tudo, menos representativa. Os índices de abstenção, votos brancos e nulos são alarmantes. Em qualquer país mais sério, isso seria repercutido de maneira estrondosa, mas não aqui. Aqui não compensa dar muita visibilidade à isso.
A vontade do povo não é a vontade das urnas. Em São Paulo, o João Dória ganhou com menos votos dos que aqueles que optaram por anular, votar em branco ou preferiram justificar.
Em BH a situação é mais bizarra. A soma de votos dos dois candidatos que vão ao segundo turno é menor do que as pessoas não votaram, votaram em branco ou anularam. A soma das pessoas que não votaram em nenhum candidato chega a mais de 40% do total. Ganharia o pleito com facilidade.
Enquanto a ênfase está sempre no “quanto” o PT saiu derrotado (por seus próprios erros, ressalte-se), poucos constataram publicamente que não houve nenhum grande vencedor. Não haveria de ter. O recado das eleições e a vontade do povo não é simplesmente “não queremos o PT”. O Recado foi mais inteligente, profundo e coerente. O recado foi não queremos nenhum deles.
Veja o exemplo de BH: só o índice de abstenção iria ao segundo turno em primeiro lugar (afinal tivemos um índice de 21,66% do total de eleitores (417.537 votos), e o primeiro colocado teve 33,40% dos votos válidos (395.952) votos. Isso quer dizer que nenhum dos 9 candidatos agradavam. Por razões pessoais, partidárias, o diabo. As pessoas não gostavam das opções que tinham. E como considerar legítima uma eleição em que o vencedor passa longe de ser o que o povo quer?
Qual a solução? Não sei. Fato é que em casos assim, era necessário algum instrumento qualquer que obrigasse a revisão dos candidatos. Era exatamente isso o que o povo queria. Os partidos ofereceram esses, e nós dissemos: "esses nós não queremos". Mas vamos ter de engolir. Como isso pode ser legítimo? A maioria não quer nenhum, então que nenhum seja empossado... Mas não funciona assim. Funciona na base do "isso é o que tem para hoje". Enquanto isso, o
TSE se faz de bobo fazendo publicidade para as pessoas votarem, como se o problema fosse a simples falta de consciência delas. Mas eles não percebem que as pessoas não deixam de votar simplesmente porque não querem. Elas o fazem por não ter em quem votar. e só não vê como protesto quem não quer.
Fato é que a voz das urnas não é necessariamente a voz do povo.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Micheis e Rafaelas

Eles não são um casal. Pelo contrário: eles são não se parecem em nada, são extremos opostos. Mas são a cara do Brasil: um país desigual em que “Michéis” comandam, mas que “Rafaelas” inspiram. No entanto, “Rafaelas”, oprimidas por “Michéis”, aparecem, se muito, de quatro em quatro anos e depois somem. “Michéis”, infelizmente, aparecem todos os dias e faz questão que nos lembremos dele o tempo todo.
Eles são os personagens do Brasil, do Brasil do Rio 2016, o Brasil olímpico e, se tem algo em comum entre eles, além de serem brasileiros, é a palavra golpe. “Michéis” são os caras que, aproveitando-se da fragilidade de caráter e da falta de competência de seus pares e antecessores, somada à alienação total de uma classe média dita instruída com suas panelas e uma mídia absurdamente manipuladora, chegaram ao poder e oferecer mais do mesmo, reprimindo as milhões de “Rafaelas”
Agora, aproveitando que os holofotes estão longe, e que a incompetência de seus sucessores ainda está latente, oculta o que os minimamente inteligentes já sabiam e que, aos poucos, em um momento muito conveniente, aparece de leve: eles (“Michéis”) estão tão ou mais banhados em lama do que seus antecessores, embora um erro não justifique o outro.
Ainda na surdina, “Michéis” retrocedem o Brasil das “Rafaelas”, acabando com os direitos mais basilares do trabalhador e usando de expedientes dos menos democráticos possíveis. Quem diria que em 2016 não se poderia entrar com uma faixa de protesto em um estádio. E não são só os olímpicos...
E só não vê quem não quer, os “Michéis” conseguiram piorar o que já estava ruim e a tendência é afundar ainda, fazendo do Brasil exatamente o oposto do que – como bem definiram os alemães – a bela, mas cínica abertura dos jogos quis mostrar.
Mas o Rio 2016 já valeu a pena. E não foi pelas sonoras vaias a um Michel. Tampouco pelo belo espetáculo de abertura, por mais que chegasse a ser cínica a dissonância com a realidade, mas que poderia ser entendido não como o que somos, mas como o que pretendemos ser. Mas isso ainda seria pouco.
O Rio 2016 valeu por causa de uma Rafaela. Rafaela, que como tantas outras, é oprimida diariamente justamente por “Michéis” e suas panelas aliadas. Mais do que vencer, a Rafaela provou que o Brasil está todo errado, do avesso mesmo, mas que também é possível acreditar.
A menina da Cidade de Deus, que convivia com a violência todos os dias, não pode e nem deve ser usada de exemplo pelos “Micheis” que certamente dirão: “tá vendo, quem quer consegue, todos têm oportunidade”. Essa Rafaela é uma exceção.
Quantas outras “Rafaelas”, atletas, músicas, cientistas o Brasil está perdendo ou perdeu simplesmente por massacrá-las? Na verdade, quase perdeu essa também. Perdeu na hipocrisia de brasileiros, cruéis, que não sabem que só o fato de uma entre as milhões de “Rafaelas” conseguir estar nas olímpiadas é um feito. Um feito dela, porque diferentemente dos atletas profissionais milionários, vindos da NBA, ou das ligas europeias de futebol, ela não tem apoio nenhum. E de maneira distinta aos atletas abastados do iatismo, hipismo ou vela, ela veio do nada, superou todos os preconceitos que uma mulher, negra e pobre sofre no Brasil. Nada contra os outros atletas, que também não estão lá por acaso. Mas nenhum deles representa tão bem a realidade quanto a Rafaela.
Rafaela, pensou em desistir porque após perder em 2012. Mas a derrota no tatame foi a menos dolorida. A derrota da humanidade é que fez a Rafaela pensar em desistir e duvidar de sua capacidade. Porque as ofensas que ela sofreu, machucam a qualquer um que se diz humano. O ouro da Rafaela está para o Brasil como os ouros de Jesse Owens estão para o mundo, servindo para calar os idiotas.
Por isso, a medalha de Rafaela não é do Brasil, até porque do Brasil ela nunca recebeu apoio. A medalha é dela, é da Cidade de Deus e de todas as “Rafaelas”. Porque nada representa mais o Brasil de Michel do que a frase dita por Rafaela: “o macaco que devia estar na jaula, hoje é campeão olímpico. ”

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Onde estão panelas?

Onde estão as panelas?
Cadê o povo na rua?
Será que o povo se satisfez com tão pouco?
Se deu por vencido, ou se sentiu vencedor? Às vezes está envergonhado... 
De toda forma, não é porque você percebeu que foi usado que você não pode protestar. Pode. Deve. Afinal, você foi enganado. Ou era esse o Brasil que você queria? Era isso que você esperava com o tal impeachment?
Se você foi a favor do golpe, pode voltar atrás, tem direito de continuar reclamando. Mas eu não ouço as panelas.
Não vejo ninguém nas ruas pedindo o fim da corrupção e o impeachment do Temer por conta das suas pedaladas.
Não ouço as panelas tilintarem em um som insuportável quando o ministro da Transparência – o Brasil não tem um ministério da cultura, mas tem o ministério da transparência – criticava a operação Lava-Jato. Acho que nesse momento, as panelas fritavam coxinhas. Era óbvio. Ao cumprir a primeira parte, a Lava-Jato tirou do caminho quem importava. Agora que chegou neles, não presta. São dois pesos e duas medidas. Mas a gente sabia, não sabia? Falta de aviso não foi. E não falo dos defensores do governo Dilma que, tão cegos quanto os coxinhas, justificavam seus erros apontando os erros dos outros...
Não vi cartazes falando sobre o simbolismo de um ministério sem minorias, nem choradeira quando o advogado do PCC foi chamado para a equipe do governo! Ninguém bateu panela quando o estilo "bela, recatada e do lar" foi imposto como objeto de desejo goela a baixo. Os símbolos falam, estão aí para avisar, para te acostumar.
Pouco tempo depois o Alexandre Frota discutia os rumos da educação e cultura do país (aliás ele é a coisa mais próxima de um ministro da cultura que temos) e um estupro coletivo bombava nas redes sociais. Ninguém percebeu o simbolismo anterior? É o recado vindo de cima e os piores cegos são os que não querem ver.
Onde estão as panelas quando precisamos delas? Política não é futebol. Você não ganhou ou perdeu. Os pesos e medidas precisam ser iguais, mas não escuto mais panelas de aço inox e esmaltadas que só saíram do armário para fazer barulho. Agora fritam coxinhas.  
A economia continua fraquejando e nossos direitos estão sendo aterrorizados por um pacote de maldades, que só está começando. O dinheiro de fora não virá, pois, as grandes economias do mundo, não reconhecem o golpe. Não confiam no Brasil. Mas quem há de confiar? Conseguem confiar menos no governo atual do que no anterior. 
O lema do Tiririca é balela, porque “pior que tá, fica”. Ficou. Era óbvio que a medida era paliativa e que manteria o modus operandi e o status quo. A queda do governo não era o fim do sistema, mas uma forma de fortalecê-lo dando uma satisfação à sociedade, que não toca mais panelas. 
O governo anterior era ruim, o atual também. Mas a condução do processo foi toda direcionada para criar vilões e heróis. Agora pagamos o preço, com os vilões fora, as panelas não cantam. Com o desvendamento do comprometimento partidário dos movimentos que chamavam às pessoas para as ruas (de ambos os lados), as ruas não falam. Os intelectuais, artistas e quem viu o processo acontecer, são chamados de petistas. Mas a história não é assim, você não precisa ser necessariamente de um lado, sobretudo quando os dois lados estão errados e entrelaçados.  
Sim entrelaçados. Para ambos a manutenção do sistema é útil, e da corrupção idem. Ora, você já viu necessidade de coalizão partidária para aumentar salário de parlamentar, aumentar benefícios ou verba de gabinete?  Então não me fale que são opostos, e não me inclua em nenhum dos lados dessa briga de foice. Mas que a barra foi forçada, isso foi.
Sim, meu caro coxinha. Você foi enganado. E, diferentemente do MPL e de alguns dos manifestantes pró-governo, você não recebeu nenhum real, nenhum lanche nenhum vale-transporte  para isso. 
Os coxinhas foram feitos de trouxinhas. As panelas tocadas em vão. Mas você pode reclamar, deve reclamar. Não se cale porque você ganhou. Você não ganhou, você foi feito de bobo e estamos à beira do caos.
Então, será que agora dá para entender quais são os verdadeiros motivos para ir à rua e bater panela? Ou você, com sua camisa da CBF, seu "gato-net" e sua cara pintada à guache vai querer continuar sendo apenas mais um trouxa que a mídia vai colocar simplesmente como oposição ao governo?

sexta-feira, 27 de maio de 2016

O Brasil que vocês queriam


Que o governo PT, sobretudo o segundo mandato da Dilma, foi um fracasso, é fato consumado. Isso era claro para qualquer um com dois neurônios. Tão claro quanto isso somente a obviedade de que a saída de imediato do governo atual e o impeachment da presidente não seria solução para o problema.

Em menos de um mês no poder o governo Temer já conseguiu superar o fracasso do governo anterior. Não bastasse o saco de maldades e o terrorismo, que está só começando, agora fica claro o quanto eram inescrupulosas as intenções do impeachment.

De cara, a equipe ministerial é a mais ficha suja da história. O governo “anticorrupção” é o mais corrupto de todos! A situação atual é esclarecedora para sabermos a razão do Brasil ser a merda que é, e como o a maioria de nós simplesmente entende política como futebol e como a mídia tem um lado escancarado. As pedaladas que deram a origem legal ao impeachment (mera desculpa, óbvio) já apareceram na lista de bem feitorias do senhor presidente. Mas agora não vejo nada na mídia, não ouço panelaços, nem faixas, nada disso.

Sem bancar o chato, já bancando, era como eu disse: deram ao povo ignorante uma satisfação paliativa que temporariamente se satisfaz. Para aqueles que acreditam em tudo o que vê, ouve e lê está tudo ótimo: “ele chegou agora, dê um tempo a ele”, “ele está montando um ministério, não os Power Rangers”. Desprezam o simbolismo implícito nas coisas, que serve exatamente para acostumar às pessoas e preparar o terreno para que se possa chegar onde quer. Aí, vem o Lobão e Danilo Gentilli falando merda na internet sobre estupro; outros endeusando a “bela, recatada e do lar” como padrão de comportamento, e a tem gente sem entender o porquê.

A última, sinceramente, achei até que fosse brincadeira. Convocar o Alexandre Frota como porta voz da sociedade civil na cultura. Primeiro, em nenhum aspecto o Alexandre Frota me representa, ninguém tão imbecil pode ser meu representante. Segundo, qual o significado, qual o tamanho do Alexandre Frota na cultura do Brasil? Ex-ator fracassado, pseudo-humorista falido e ator pornô frustrado. A cultura brasileira está na direção certa, o Brasil está no rumo certo.

Daqui a pouco, com eminente fracasso deste governo doentio, vão gritar “volta Dilma”, e o ciclo continua. E os coxinhas viraram trouxinhas em menos de um mês.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Metrô Linha 743



Eu me pergunto se o grande Raul Seixas era realmente um cara à frente do seu tempo ou se somos nós que insistimos em repetir a história. Já diria Raulzito na genial música Metrô Linha 743, em clara referência à ditadura militar, que:


“O prato mais caro do melhor banquete é

O que se come cabeça de gente que pensa”


E a letra prossegue:


 “(...)Não interessa, pouco importa, fique aí

Eu quero é saber o que você estava pensando

Eu avalio o preço me baseando no nível mental

Que você anda por aí usando

E aí eu lhe digo o preço que sua cabeça agora está custando


Por fim, para encerrar com chave de ouro, Raul cantava:


Já tá tudo armado, o jogo dos caçadores canibais

Mas o negócio aqui tá muito bandeira

Dá bandeira demais meu Deus


Repito. Não sei se Raul era demasiadamente à frente de seu tempo ou se somos nós quem insistimos em repetir a história. Fato é que neste último mês li em uma edição até um pouco mais antiga da revista Veja, sobre leis absurdas. A reportagem considerava absurda a lei que incluía sociologia e filosofia no currículo escolar obrigatório. Segundo o doente que escreveu a matéria, o Brasil, com seus péssimos índices educacionais, deveria se preocupar com matérias mais importantes, como matemática e ciências ao invés de incluir sociologia e filosofia. 

O gênio completa concluindo que sociologia nada mais é do que defesa do sindicalismo e que a educação brasileira já está "infestada" pelo pensamento de esquerda. Ler isso é um dos ossos penosos da democracia. E, se o cara for jornalista, tenho a mais absoluta certeza de que ele não acredita no que ele escreveu. Até porque a faculdade de jornalismo tem grande parte de seu currículo voltado à sociologia e filosofia.


Também no último mês, em Alagoas, uma lei reprovada pelo governador teve o veto do executivo derrubado na Assembleia Legislativa daquele estado. Segundo a lei, os professores da rede pública alagoana estão proibidos de emitir opinião sobre assuntos polêmicos dentro de sala de aula sob a pena de demissão. 


Tendo isso em vista, só posso dizer que Raul estava certo: pensar é perigoso. Se hoje, ao menos até segunda ordem, não corremos o risco de ver nossos “cérebros postos à mesa”, o perigo aumenta para quem está no poder. Para os “desgraçados donos dessa zorra toda” as pessoas que pensam são uma ameaça, a não ser, evidentemente, que estejam ao seu favor.


Para eles pensar é monopólio de quem manda. Afinal, mesmo eles, coordenadores dessa engrenagem, são ou estão assessorados por muita gente que pensa. Muitos jornalistas, advogados, sociólogos, administradores, todos eles bombardeados com sociologia e filosofia durante a vida acadêmica. Mas o tipo de raciocínio humano, se for colocado contrário aos interesses deles se torna uma lástima. 


Isso porque quem pensa consegue filtrar as notícias. Para quem pensa a mídia está muito longe de ser a dona da verdade. Quem pensa consegue ver os interesses por trás de cada fato político, de cada notícia. Quem pensa sabe que política não é futebol, que não existe maniqueísmo, muito menos que só existem dois caminhos para o Brasil. Quem pensa não é oposição, nem é situação. Quem pensa não é petista, nem tucano, nem petralha, nem coxinha. Quem pensa já diagnosticou, há tempos, que os conceitos políticos de direita e esquerda não se aplicam e nem vão se aplicar ao Brasil, que nunca seremos de esquerda, nem de direita.


Quem pensa já percebeu que todo esse processo de impeachment é um verdadeiro circo. Um circo muito bem armado do qual nós somos os palhaços. Quem pensa sabe que ter essa consciência é muito diferente de ser governista. Quem pensa sabe que esse alívio popular é tratar câncer com aspirina, uma maneira paliativa de satisfazer à opinião pública temporariamente para no fim ficar mais fácil manter as coisas como estão. Quem pensa sabe, inclusive, que o verdadeiro motivo para o prosseguimento do processo de impedimento da presidente seja, talvez, a única coisa que ela tenha feito de certo neste governo: se indispor com o Cunha. 


Quem pensa não se ilude, sabe que nada está mudando ou se moralizando. Quem pensa vê, agora citando outro gênio da música, “o futuro repetir o passado”. Quem pensa sabe que estamos à mercê de uma mídia, no mínimo, duvidosa; de um sistema corrompido; e de um congresso sem nenhuma dúvida: corrupto. Até os estrangeiros já notaram isso. Aí nem precisava pensar, bastava ser curioso e acompanhar as manchetes internacionais no dia pós votação “por deus, pelos meus filhos, pela minha mãe e pelos poderes de Gray Skull”. Os jornais estrangeiros diziam que a presidente estava sendo julgada por um congresso absolutamente corrupto, de caráter duvidoso e que toda sua linha sucessória também estava sujeita ao impeachment, talvez até mais do que a própria presidente. E quem pensa sabe que dizer isso não é defender a presidente, não é defender o indefensável, nem justificar o erro de um pelo erro do outro. Mas é ser contra “o pão e circo” e de uma mudança que, na prática, nada mais é do que monopolizar a corrupção.


Quem pensa sabe que enquanto estamos aqui, tratando câncer com aspirina, o país fica parado, o foco se desvia, e a corrupção rola mais solta ainda, monopolizada agora. Quem pensa sabe que, no futuro, os apoiadores desse processo serão comparados aos cegos da “marcha pela família” de 1964 - muitos no exterior já veem assim. E olha que em menos de dois dias de governo o Temer já demonstrou claramente, até para quem não pensa, que essa é a tendência. Aliás, ele, sem nenhuma vergonha, divulgou isso ao mundo através da sua marca, e quem fez comunicação ou design sabe quais os valores ela transmite e o quanto eles são, com o perdão do trocadilho, temerários. Não bastasse isso, ele já excluiu as minorias e as mulheres dos ministérios, aliás formou um ministério com a pior ficha corrida da história (a cada vez em que penso no Blairo Maggi na agricultura três mil hectares da Amazônia caem). Além disso diminuiu os benefícios sociais, aumentou bisonhamente o "Minha Casa, Minha Vida" e, embora muitos realmente devessem desaparecer, cortou alguns ministérios absolutamente fundamentais à uma nação   como o Ministério da Cultura.


Mas faz sentido, ao menos ninguém pode reclamar de incoerência. Afinal, porque eles vão querer um ministério cujo objetivo maior é fazer as pessoas pensarem? Por isso eu digo: pensar é muito perigoso. Por enquanto é para eles, mas pode voltar a ser para nós. E quanto mais Homer, melhor.

sábado, 5 de março de 2016

Eu tenho certeza: juízes são deuses

Já diria o poeta Wesley Safadão: “quer saber, palmas para você”. No caso, vocês. Fato é que em meio ao festival de idiotices, não sei o que é mais idiota, nem quem é mais idiota. A única certeza nesse cenário é a de que todos, de todos os lados, querem nos fazer de imbecis e, sinceramente, até dói dizer, mas estão conseguindo, por isso as palmas.

Começando pelo óbvio, antes de me julgarem advogado do diabo, é realmente muita imbecilidade, ingenuidade, ou mesmo má fé acreditar na honestidade e defender o Lula de todas as acusações. É querer se fingir de bobo. Aliás, a única acusação da qual tenho certeza de sua inocência é que não foi ele o primeiro, nem o que mais roubou.

A mesma proporção de imbecilidade, ingenuidade e má fé de acreditar na honestidade do Lula é crer na idoneidade do PSDB, Globo e que o Aécio Neves tem envergadura moral para falar de algum dos acusados de qualquer. Lembro: de todos os partidos com representação na câmara, apenas o PCB e o PSOL não tiveram, em nenhum momento, seus nomes citados.

Lembro também, que o helicóptero cheio de cocaína de um senador não era do PT. Nem foi do PT a ideia genial de construir um aeroporto em Cláudio, ou de dispensar licitação para construir uma cidade administrativa, nem a compra da reeleição, nem o metrô de São Paulo, nem espancar professor em Curitiba, nem o escândalo de Furnas e por aí vai...
O que, evidentemente, não isenta a culpa do PT, não justifica os atos do PT. Mas, certamente, deveria retirar dos tucanos os status de heróis, salvadores da pátria defensores da honestidade, porque isso, desde 1998 todos sabemos que eles não são.

Intrigante para mim é o momento em que a investigação foi parar na mão do Lula, terceiro pior presidente da história do Brasil, atrás do Color e do FHC, sendo que deste último, a diferença está literalmente no critério de desempate dos meus conceitos.

Justamente na hora em que o chefe da casa civil de São Paulo - do PSDB - é preso, que começa a aparecer alguma coisa ou outra do FHC – uma delas envolvendo a Globo -, em que se descobre que um dos nomes fortes nessa operação vai se candidatar pelo PSDB nas próximas eleições, e na hora da declaração simbólica do Odebrecht, autorizando seus funcionários a fazerem a delação premiada, mas se recusando a fazer pois, segundo ele mesmo, se ele fizesse entregaria todo mundo. Esse tom, meus caros, nada mais foi do que uma ameaça. Não pense que ao Lula, esse já estava fodido há tempos, com a lama até o pescoço. Era questão de tempo.

A ameaça era para o outro lado, para os tucanos e chegar ao Lula agora é desviar o foco. Acreditar ou defender qualquer um dos lados é uma tolice sem tamanho. Ambos fizeram as mesmas merdas, a diferença é que um soube esconder melhor, ou calou melhor a boca de quem deveria, ou aproveitou que não existiam redes sociais. A diferença entre eles é 32, ou seja, a diferença entre 45 e 13. Afirmo ainda que, tivesse o Aécio sido eleito, hoje veríamos adesivos: “A culpa não é minha, eu votei na Dilma”.

Mas ainda não são esses os maiores idiotas. Definitivamente não. Os idiotas sublimes são os que não conseguem ver o tamanho do absurdo simbólico acontecido no dia 04 de março de 2016. Foi alarmante, aliás ainda é, uma loucura sem tamanho e só os cegos não veem o tamanho das consequências que isso pode ter.

Primeiro é mais uma vez o juiz se achar Deus, como no caso da pobre policial do Rio de Janeiro. Esse daí se acha superior até ao STF, pior conseguiu ser. Quer dizer, eles realmente são deuses. Este, querendo bancar o populista e ser o herói nacional, mas pode entrar na história e ser visto no futuro como um grande vilão. Levar o Lula para depor? Mais que justo, um dever e uma obrigação. Ele tem de prestar contas. A coerção e a maneira como ele foi conduzido, vai para muito além do desnecessário e da ilegalidade. Tem um forte simbolismo golpista. O tiro pode até sair pela culatra, pois para alguns o Lula saiu como mártir e mais forte do que nunca. Os conflitos entre os prós e os contras, ou seja, entre os idiotas e os imbecis, já estão aí para provar.

A primeira consequência nefasta, e tenho certeza de não estar sozinho nessa, é a mudança de perspectiva ao ver o cenário e desejar justiça. Por mais que não acredite na inocência do Lula, por mais que quisesse ele preso, a maneira coercitiva desse depoimento e a perspectiva do futuro que nos espera, a possibilidade dos ídolos que serão criados, me fazem desejar profundamente que ele não seja preso agora. Nem ele nem seus adversários, de caráter tão questionável quanto, mas que podem sair como ídolos em uma sociedade maniqueísta e burra que vive à base do “ou tá comigo ou contra mim”. As prisões têm que acontecer, de ambos os lados, mas só quando essa putaria acabar, quando ninguém lembrar do dia 04 de março, quando não tiverem mais postulantes a heróis.

Caso contrário, o já instaurado clima de golpe pode ficar insustentável. Um golpe hoje está fácil. Uma intervenção qualquer, um maluco cristão radical, um militar louco, ou qualquer um desses toma o poder dessa merda fácil e ainda nos braços do povo. Não ficarei assustado se um dia acordar com um militar na minha porta me prendendo. Aliás a arbitrariedade da condução do Lula ao depoimento é assustadora. Imagine ao que você, reles mortal, pode estar submetido simplesmente por entrar em confronto com alguém de determinada importância? Poderia ser você, se não pela Lava-Jato, por discutir com um juiz no trânsito. É injustificável o uso de força contra alguém que não está resistindo, nem tampouco oferecendo perigo.

O pior é estamos sendo usados de massa de manobra nessa brincadeira e cuidado com o que desejam: daqui a pouco pensar vai ser crime e pode ser você ali.

Realmente, a solução é pedir desculpas aos índios e devolver essa merda.